POLÍTICA

          Dilma, Crises e Imagem Pública

    Por Marco Iten


          Imagem Pública é coisa séria e, hoje, podemos dar exemplos práticos, próximos e bem atuais sobre a Arte que é a exposição pública de figuras políticas.
          Todo político deseja a exposição permanente, ser visto, ser comentado, ser fotografado, ser citado pela Imprensa e pelas Redes Sociais. Mas deseja que tais citações sejam positivas, é claro. Na prática, no entanto, não é o que acontece. A Mídia é frequentemente crítica, como deve realmente ser. A chamada Grande Mídia, no entanto, não é pautada apenas pelos grandes fatos negativos – e esta verdade será abordada no decorrer destas linhas.
          A presidente Dilma viu sua Imagem Pública ruir em menos de 60 dias, num turbilhão de fatos negativos, todos eles de conhecimento público, como a volta da inflação, o esgotamento do cidadão pelos altos impostos, a degradação dos serviços públicos de saúde, estradas esburacadas, custo de vida, alto endividamento das famílias, o fim da ilusão do consumo desenfreado, mordomias do alto escalão, voos turísticos com aviões da FAB, 39 ministérios efetivamente incompetentes, comércio exterior deficitário, escândalos federais diversos, péssima gestão das finanças públicas, má gestão da PETROBRÁS, déficits bilionários na ELETROBRÁS, manifestações públicas em todo o país e a sensação nítida de que o PT vendeu uma ilusão que não conseguiu cumprir: a do partido que desenvolveria o país e empreenderia a Justiça Social, com Ética.
          Desnecessário seguir o diagnóstico. O que vale neste momento é observar como o governo federal e os responsáveis pela comunicação da presidente e da Presidência empreendem um esforço de resgate – ou, pelo menos, de atenuação – da Imagem Pública do grupo político lá instalado.
          Do impacto inicial das notícias econômicas Brasília se via como impermeável a sofrer efeitos negativos, imaginando que a população estaria – e estava – anestesiada em sua capacidade crítica e no poder de identificar responsáveis pela inflação e escândalos como integrantes do governo. O raciocínio era: "Isso não cola na Dilma, como não colou no Lula”. E a garantia estava nos altos índices de popularidade nunca antes verificados.
          O Tsunami político veio das ruas, dos jovens, da classe média informada, como vimos, no Brasil e em todo o mundo. Para a opinião pública internacional estamos vivendo o Outono Petista, como o Oriente Médio teve sua Primavera Árabe.
           Após a grande onda de manifestações o Planalto vem tentando agir para interromper o foco de desgastes e de atenções negativas que sobrevoam o ambiente palaciano. A tarefa, até o momento, vem desencadeando mais e mais fissuras negativas na percepção popular e, diretamente, no ambiente político que sustenta o governo federal.
          O pronunciamento da presidente pode ser avaliado como desastroso. Senão, vejamos: negou haver dinheiro público nas obras da Copa; propôs plebiscito ou referendo e uma Constituinte específica para a Reforma Política; prometeu ouvir a Nação e, num balanço geral, não disse o que desejávamos ouvir: ela não se comprometeu a começar a governar o país.
          Do pronunciamento até o presente momento, a presidente cumpre uma sucessão de lançamentos, posicionamentos e aparições que visam desviar as atenções dos brasileiros para temas periféricos – médicos estrangeiros, espionagem americana, plebiscito, Marcha de Prefeitos, temas nada estruturantes para um país que aguarda respostas.
          À Grande Mídia – notadamente as TVs e seus grandes telejornais – cumpre o papel de porta-voz eletrônico dos desejos dos detentores do poder, e o fez inicialmente criminalizando as manifestações (com destaque desproporcional para os poucos arruaceiros), potencializando o Futebol, Neymar e assuntos periféricos, mas nunca buscando as origens dos descontentamentos que pesquisas qualitativas indicam: a frustração do brasileiro cresce na mesma proporção da quebradeira das empresas do ex-ícone da Era Lula, Eike Batista.
          O grande pesadelo é a irremediável perda de apoios políticos no Congresso e a fuga dos (hoje) partidos aliados na corrida sucessória de 2014. Ela já começou e os aliados desenham planos B, C e D, sem o PT.
          O Tsunami político está nas ruas, com as donas de casa, os aposentados, taxistas, estudantes.
          Brasília implora para que o Papa venha logo. Que a Seleção vença todas. Que ninguém fique doente. Que catástrofes naturais ocupem o noticiário. Brasília reza para que a "Nossa Senhora do Factual” envie muitas notícias bombásticas – e todas elas longe de Brasília, é claro... 
          Assim é a aplicação das técnicas da Imagem Pública: perto da Dilma só as boas notícias, ou nenhuma notícia. Esqueçam de mim!!! Deixem a vida me levar, já cantava o antecessor.


Marco Iten é consultor de Marketing Político, jornalista e autor de 4 livros sobre Marketing Político e Internet nas campanhas eleitorais.


Marco Iten é consultor de Marketing Político, jornalista e autor de 4 livros sobre Marketing Político e Internet nas campanhas eleitorais.

 

Movimentos x Protestos

protesto : significa um objetivo direto – um assunto apenas

Enquanto a  manifestação (movimento) expressa uma reação solitária ou em grupo, de caráter público, contra ou a favor de determinado evento que resolvido movimenta-se para outros assuntos que vem incomodando. Os manifestantes organizam um protesto como uma maneira pública de que suas opiniões sejam ouvidas em uma tentativa de influenciar a opinião de outras pessoas ou a política do governo, ou podem empreender a ação direta tentando, elas mesmas, decretar diretamente as mudanças desejadas.

Então quando observamos que os estados concordaram em abaixar a tarifa de ônibus, novos assuntos vieram a tona e esperam resultados, senão isso continua com novas reivindicações, as pessoas estão cansadas de ficarem acomodadas e justamente cobram e saem as ruas.

 

Protestos despertaram Brasil para realidade, diz sociólogo francês

Alain Touraine foi professor do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso

“Os atuais protestos em várias cidades brasileiras resultam do fato de que os brasileiros "caíram na realidade", na avaliação do sociólogo francês Alain Touraine, especialista em América Latina e autor de inúmeros livros sobre movimentos sociais. "A situação (econômica e social) no Brasil vinha sendo descrita de maneira exageradamente cor-de-rosa", disse o sociólogo em entrevista à BBC Brasil. Para ele, os protestos aproximaram a imagem que se tinha do Brasil da realidade do País”.

"Construiu-se uma imagem do Brasil em que tudo vai bem e que o País se dirige rapidamente em direção ao crescimento e ao bem-estar. Fico feliz ao ver que o que acontece atualmente no Brasil corresponde melhor à realidade do País do que as imagens que vinham sendo transmitidas", afirmou.

O sociólogo definiu os movimentos de protestos no Brasil como a "quebra da esperança", um sentimento de "decepção, que cria uma situação favorável ao descontentamento". "Quando há crescimento econômico e ele diminui, como é o caso do Brasil, isso representa exatamente o bom momento para protestar", disse ele.

"O balanço da situação brasileira é bom, mas o País sofre desigualdades e benefícios do desenvolvimento são muito mal distribuídos. O Brasil ainda está muito longe de ter um nível de distribuição de renda aceitável", completou.

Nível baixo de vida


De acordo com Touraine, os protestos no Brasil demonstram "um sentimento real, justificado, de que o nível de vida é muito baixo". "A pobreza, que permanece imensa, é sacrificada em benefício do espetáculo", disse ele, se referindo aos gastos "gigantescos" com as obras da Copa do Mundo e Jogos Olímpicos, que geraram protestos "no país do futebol".

Mas Touraine ressaltou que os protestos no Brasil não assumiram, "pelo menos até o momento", uma forma política, com o objetivo de derrubar o governo, como ocorreu nas revoluções nos países árabes. "O caso brasileiro é um pouco atípico. As reivindicações econômicas e sociais são, pelo menos aparentemente, mais importantes do que os protestos ou ataques puramente políticos", afirmou.

"Não há um furor pela democracia no Brasil como ocorreu, por exemplo, na praça Tiananmen, em Pequim. Em vários países os protestos se concentraram contra um ditador. No caso do Brasil, não acredito que os protestos representem uma ameaça política contra o governo atual. Mas é possível que a situação evolua. Hoje, não posso dizer que o movimento seja voltado contra Dilma Roussef", concluiu.

(Fonte: https://noticias.terra.com.br/brasil)

Carga tributária pesada

PT vota contra o trabalhador ao rejeitar isenção maior de imposto sobre participação nos lucros

O PT se posicionou contra o trabalhador brasileiro durante a votação da Medida Provisória 597/12, nesta terça-feira (21). Deputados do partido rejeitaram emenda apresentada pelo PSDB que aumentava o limite de isenção do Imposto de Renda na participação nos lucros e resultados (PLR) recebida por funcionários. O texto aprovado da MP prevê isenção até o ganho de R$ 6 mil. Com o objetivo de reduzir os altos impostos pagos pelo cidadão, os tucanos sugeriram o benefício a quem receber até R$ 9 mil de PLR.

O deputado Duarte Nogueira (SP) defendeu a emenda e criticou os ataques da base governista. “Estamos pedindo para fazer justiça com os trabalhadores, que são penalizados com a incidência do IR na participação nos lucros”, disse. De acordo com o texto aprovado, as parcelas da PLR entre R$ 6 mil e R$ 9 mil serão tributadas em 7,5%.

Segundo ele, os representantes do governo federal fizeram jogo dúbio ao recusar a proposta. A base aliada alegou que a emenda reduziria os valores repassados a estados e municípios. “Quando o governo manda para cá pacotes de desoneração dando benefícios fiscais pontuais para algumas empresas, ninguém da base aliada reclama”, respondeu Duarte.

“O PSDB entende que a redução da carga tributária é fundamental para que haja um ambiente econômico salutar, para gerar empregos, para defender o trabalhador e garantir renda à população. A MP diminui impostos, melhora o ambiente de investimentos e dá aos trabalhadores a chance de ter menos cobrança na participação dos lucros”, disse o deputado. Outro destaque dos tucanos pedia a exclusão da faixa de tributação da PLR de R$ 9 mil a R$ 12 mil, mas a iniciativa foi rejeitada.

O texto aprovado pela Câmara determina ainda alíquota de 15% para valores entre R$ 9 mil e R$ 12 mil, 22,5% para pagamentos entre R$ 12 mil e R$ 15 mil, e 27,5% quando a PLR ultrapassar os R$ 15 mil.

Os deputados ratificaram também a Medida Provisória 600/12, que, entre outros pontos, permite o uso de recursos do Fundo Nacional de Aviação Civil (Fnac) para a reforma de aeroportos públicos. O deputadoMarcus Pestana (MG) criticou a diversidade de assuntos de que trata a MP. Para ele, a proposta é uma colcha de retalhos. “A MP e o relatório têm coisas boas e coisas ruins. É um Frankstein, uma salada de frutas, uma colcha de retalhos. São temas variados em que a discussão perde qualidade”, explicou.

Entre os pontos negativos, Pestana criticou a simplificação das licitações na reforma dos aeroportos. Já o refinanciamento das dívidas das Santas Casas foi elogiado pelo tucano.

Durante a análise da matéria, o líder do PSDB na Câmara, Carlos Sampaio (SP), denunciou o esvaziamento do plenário. Ele alertou para um possível descumprimento do acordo para as votações em plenário por parte da base aliada. “Imaginei eu que jamais haveria o descompromisso por parte da base aliada, mas acabo de saber que a ordem dada para a base aliada é esvaziar o plenário e não votar os projetos de lei de autoria desta Casa. A nossa palavra tem que valer algo. É inadmissível que aconteça isso em uma Casa como esta”, criticou.

A oposição concordou em analisar as duas medidas provisórias, sem obstrução, desde que em seguida fossem apreciados dois projetos de lei: o PLP 200/12, que extingue a contribuição social de 10% sobre todo o saldo do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), devida pelos empregadores no caso de demissão sem justa causa, e a PEC 111/11, que permite o enquadramento de servidores dos ex-territórios de Amapá e Roraima nos quadros em extinção da União.

Os deputados aprovaram a urgência para a votação do PLP 200, mas a análise do texto foi adiada por falta de quórum e devido à obstrução de diversos partidos. 

Matéria atualizada às 00h18.

(Reportagem: Elisa Tecles e Alessandra Galvão/ Foto: Alexssandro Loyola)

Um gigante ferido

Outro dia, durante um encontro com jovens estudantes, falamos sobre a importância da política na formação de uma sociedade. E desde que entramos no assunto, muitos desses jovens deixaram claro a sua aversão para com o assunto. Quando falamos sobre a nossa condição de deputado, foram muitas as questões, desde o interesse em saber o porquê de termos entrado na política, além da situação do país como um todo.

É evidente que não iremos, aqui, detalhar o que foi dito, o que foi discutido e o que os jovens contestaram. O que ficou nítido foi o interesse, quando a conversa franca, é direta, olho no olho, quando não se foge da resposta, mesmo quando ela tem que ser dura, objetiva e, muitas vezes, quando temos que  colocar o dedo na ferida. Ferida, acho que é a palavra correta, embora o ideal que ela fosse usado no masculino.

Temos que admitir que o nosso país está ferido. Ferido na maneira de agir, de contestar, de lutar, de reivindicar, de ir em busca dos seus anseios. É um ferimento que já não sangra, embora se mostre difícil de cicatrizar. E isso é o que preocupa. O sintoma de resignação virou a marca de um povo que aceita o que lhe é jogado sobre os ombros. E isso está visível tanto no tributo abusivo, como na carência de serviços públicos; na aceitação do produto importado, em detrimento do nacional, como na música de qualidade duvidosa que os meios de comunicação nos impõem.

É essa docilidade que preocupa. Ela está contida no idoso que não reivindica os seus direitos e no jovem que não vai à luta; no trabalhador que aceita os limites e despreza a necessária reciclagem profissional, e no mestre que ignora os horizontes; no homem público que foge de suas responsabilidades,  que se omite e que vira o rosto diante do problema; no falso solidário de busca proveito próprio, e no necessitado que se alberga na carência que se eterniza.

E quando fazemos essas comparações, aquele jovem que diz detestar a política procura desculpas e encontra respostas no nada que recebeu dos educadores. E os educadores se justificam dizendo que precisam se ater apenas ao conteúdo didático. E, inconformados, insistimos na pergunta, e as respostas são vazias, vazias de conteúdo, vazias de interesse, vazias de objetivos.

Gostar de política é uma escolha; gostar dos políticos, uma opção. Discutir política é um dever de todos, afinal, é na política de devemos encontrar as soluções para as nossas carências, os nossos problemas, os objetivos da sociedade. É elementar dizer que a política responde pelos erros e pelos acertos de um povo. O que não se pode aceitar é o descomprometimento, porque o ato e se lavar as mãos não tem significado algum, além da omissão. E na história da humanidade apenas um omisso ficou para a eternidade. Ele lavou as mãos e deu no que deu.

Vitor Sapienza é deputado estadual (PPS), ex-presidente da Assembleia Legislativa de São Paulo, economista e agente fiscal de rendas aposentado. Acesse: www.vitorsapienza.com.br

 

Os desafios do diplomata brasileiro que comandará a OMC

 

Benny Spiewak*

O diplomata brasileiro Roberto Azevêdo foi anunciado como o próximo diretor-geral da Organização Mundial do Comércio (OMC). Ele terá que enfrentar enormes desafios, incluindo os relacionados com os caminhos do sistema de Propriedade Intelectual mundial. Um dos testes mais importantes diz respeito a combinação eficaz de inovação e propriedade intelectual. As economias emergentes, carentes das indústrias inovadoras, são extremamente cautelosas e, em oportunidades, negativas quando se trata de discutir a propriedade intelectual.

Nacionalmente, a eleição do candidato brasileiro tende a impulsionar algumas iniciativas, como a aguardada adesão do Brasil ao Protocolo de Madri, bem como, atividades pró-propriedade intelectual mais estruturadas. E o Brasil precisará dar o exemplo.

O cenário pode, eventualmente, mudar não só a forma como funciona o comércio, mas também e, especificamente, as ferramentas que ele usa para operar, incluindo o sistema de propriedade intelectual. E com um líder de uma economia emergente a frente das futuras negociações é bem provável que haverá um destaque especial para implementação de novas políticas de propriedade intelectual globais, que são absolutamente diferentes nas economias desenvolvidas e em desenvolvimento.

Para começar, é justo supor uma política para as economias emergentes com destaque para transferência de tecnologia, interação entre propriedade intelectual e os aspectos da biodiversidade, o impacto mais amplo de exceções ao direito autoral e agenda sobre os novos regimes de propriedade intelectual, por exemplo, novo tratado na área de broadcasting ou radiodifusão. Ainda, como um líder de economia emergente, o novo diretor-geral deverá compartilhar uma perspectiva mais pró-ativa quando se trata da aplicação integral da Agenda de Desenvolvimento, ou seja, a chamada avaliação equilibrada das necessidades de propriedade intelectual.

Roberto Azevedo é altamente preparado para o cargo, pois é enérgico, hábil e altamente experiente em todos os assuntos relacionados à OMC. Por exemplo, o candidato liderou a missão brasileira na OMC durante o notável caso sobre Subsídios dos EUA em algodão herbáceo. Em suma, de acordo com a decisão proferida nesse caso, os árbitros da OMC autorizaram o Brasil a adotar contramedidas que enfrentam os EUA não só de bens, mas também em serviços e propriedade intelectual, que não foram implementadas, ainda.

Objetivamente, uma excelente vitória para o Brasil, principalmente a partir de uma perspectiva de propriedade intelectual, pois os EUA teriam muito pouco espaço para contestar a política internacional do Brasil no tema, incluindo uma recente decisão da Anvisa sobre critérios de patentes de produtos farmacêuticos.

Na medida em que a maioria das economias em desenvolvimento contam com sistemas de saúde universais, ou seja, em que o Governo é o único jogador e comprador de terapias, o recente movimento brasileiro poderia limpar o caminho para estratégias semelhantes, como as desenvolvidas por outras economia de países emergentes.

Já é sabido como um líder europeu analisou e conduziu os temas. Resta avaliar como um líder brasileiro abordará essas tendências. Espera-se que o desenvolvimento da agenda comercial seja substancial, mas com respeito absoluto aos importantes mecanismos do livre comércio e da livre iniciativa, especialmente a Propriedade Intelectual.

*Benny Spiewak é advogado, sócio responsável pelas áreas de Defesa, Propriedade Intelectual, Life Sciences e Tecnologia do escritório ZCBS – Zancaner Costa, Bastos e Spiewak Advogados, especialista em Propriedade Intelectual e Tecnologia pela Fundação Getúlio Vargas de São Paulo (FGV-SP), especialista em Propriedade Intelectual e Transferência de Tecnologia pelo The Franklin Pierce Law Center (Concord, EUA) e mestre em Direito da Propriedade Intelectual (LLM), formado pela The George Washington University – benny.spiewak@zcbs.com.br

 

Professora de 74 anos bateu forte na presidente

A professor Martha de Freitas Azevedo Pannunzio, de 74 anos, é de Uberlância. Ela escreveu uma carta para a presidente Dilma que foi entregue em mãos. Vale a pena ler. É a voz de quem não se cala e não consente. 

BRASIL CARINHOSO
Bom dia, dona Dilma!
Eu também assisti ao seu pronunciamento risonho e maternal na véspera
do Dia das Mães. Como cidadã da classe média, mãe, avó e bisavó, pagadora
de impostos escorchantes descontados na fonte no meu contracheque de
professora aposentada da rede pública mineira e em cada Nota Fiscal
Avulsa de Produtora Rural, fiquei preocupada com o anúncio do
BRASIL CARINHOSO.
Brincando de mamãe Noel, dona Dilma? Em ano de eleição municipalista?
Faça-me o favor, senhora presidentA! É preciso que o Brasil crie um
mecanismo bastante severo de controle dos impulsos eleitoreiros dos
seus executivos (presidente da república, governador e prefeito) para
que as matracas de fazer voto sejam banidas da História do Brasil.

Setenta reais per capita para as famílias miseráveis que têm filhos
entre 0 a 06 anos foi um gesto bastante generoso que vai estimular
o convívio familiar destas pessoas, porque elas irão, com certeza,
reunir sob o mesmo teto o maior número de dependentes para engordar
sua renda. Por outro lado mulheres e homens miseráveis irão correndo
para a cama produzir filhos de cinco em cinco anos. Este é, sem dúvida,
um plano quinquenal engenhoso de estímulo à vagabundagem,
claramente expresso nas diversas bolsas-esmola do governo do PT.

É muito fácil dar bom dia com chapéu alheio. É muito fácil fazer gracinha,
jogar para a plateia. É fácil e é um sintoma evidente de que se trabalha
(que se governa, no seu caso) irresponsavelmente.

Não falo pelos outros, dona Dilma. Falo por mim. Não votei na senhora.
Sou bastante madura, bastante politizada, sobrevivente da ditadura
militar e radicalmente nacionalista. Eu jamais votei nem votarei num
petista, simplesmente porque a cartilha doutrinária do PT é raivosa e
burra. E o governo é paternalista, provedor, pragmático no mau sentido,
e delirante. Vocês são adeptos do quanto pior, melhor. São discricionários,
praticantes do bullying mais indecente da História do Brasil.

Em 1988 a Assembleia Nacional Constituinte, numa queda-de-braço
espetacular, legou ao Brasil uma Carta Magna bastante democrática
e moderna. No seu Art. 5º está escrito que todos são iguais perante
a lei*. Aí, quando o PT foi ao paraíso, ele completou esta disposição,
enfiando goela abaixo das camadas sociais pagadoras de imposto
seu modus governandi a partir do qual todos são iguais perante a lei,
menos os que são diferentes: os beneficiários das cotas e das bolsas-esmola.
A partir de vocês. Sr. Luís Inácio e dona Dilma, negro é negro, pobre
é pobre e miserável é miserável. E a Constituição que vá para a pqp.
Vocês selecionaram estes brasileiros e brasileiras, colocaram-nos no
tronco, como eu faço com o meu gado, e os marcaram com ferro
quente, para não deixar dúvida d e que são mal-nascidos.
Não fizeram propriamente uma exclusão, mas fizeram, com certeza,
publicamente, uma apartação étnica e social. E o PROUNI se transformou
num balcão de empréstimo pró escolas superiores particulares de
qualidade bem duvidosa, convalidadas pelo Ministério de Educação.
Faculdades capengas, que estavam na UTI financeira e deveriam ter
sido fechadas a bem da moralidade, da ética e da saúde intelectual,
empresarial, cultural e política do País. A Câmara Federal endoidou?
O Senado endoidou? O STJ endoidou? O ex-presidente e a atual
presidentA endoidaram? Na década de 60 e 70 a gente lutou por
uma escola de qualidade, laica, gratuita e democrática. A senhora
disse que estava lá, nesta trincheira, se esqueceu disto, dona Dilma?
Oi, por favor, alguém pare o trem que eu quero descer!

Uma escola pública decente, realista, sintonizada com um País
empreendedor, com uma grade curricular objetiva, com professores
bem remunerados, bem preparados, orgulhosos da carreira, felizes,
é disto que o Brasil precisa. Para ontem. De ensino técnico, profissionalizante.
Para ontem. Nossa grade curricular é tão superficial e supérflua, que o
aluno chega ao final do ensino médio incapaz de conjugar um verbo,
incapaz de localizar a oração principal de um período composto por
coordenação. Não sabe tabuada. Não sabe regra de três. Não sabe
calcular juros. Não sabe o nome dos Estados nem de suas capitais.
Em casa não sabe consertar o ferro de passar roupa. Não é capaz de
fritar um ovo. O estudante e a estudantA brasileiros só servem para
prestar vestibular, para mais nada. E tomar bomba, o que é mais triste.
Nossos meninos e jovens leem (quando leem), mas não compreendem
o que leram. Estamos na rabeira do mundo, dona Dilma. Acorde! Digo
isto com conhecimento de causa porque domino o assunto. Fui a vida
toda professora regente da escola pública mineira, por opção política
e ideológica, apesar da humilhação a que Minas submete seus
professores. A educação de Minas é uma vergonha, a senhora é
mineira (é?), sabe disto tanto quanto eu. Meu contracheque confirma
o que estou informando.

Seu presente para as mães miseráveis seria muito mais aplaudido se
anunciasse apenas duas decisões: um programa nacional de planejamento
familiar a partir do seu exemplo, como mãe de uma única filha, e uma
escola de um turno só, de doze horas. Não sabe como fazer isto? Eu
ajudo. Releia Josué de Castro, A GEOGRAFIA DA FOME. Releia Anísio
Teixeira. Releia tudo de Darcy Ribeiro. Revisite os governos gaúcho e
fluminense de seu meio-conterrâneo e companheiro de PDT, Leonel
Brizola. Convide o senador Cristovam Buarque para um café-amigo,
mesmo que a Casa Civil torça o nariz. Ele tem o mapa da mina.

A senhora se lembra dos CIEPs? É disto que o Brasil precisa. De escola
em tempo integral, igual para as crianças e adolescentes de todas as
camadas, miseráveis ou milionárias. Escola com quatro refeições
diárias, escova de dente e banho. E aulas objetivas, evidentemente.
Com biblioteca, auditório e natação. Com um jardim bem cuidado,
sombreado, prazeroso. Com uma baita horta, para aprendizado dos
alunos e abastecimento da cantina. Escola adequada para os de
zero a seis, para estudantes de ensino fundamental e para os de
ensino médio, em instalações individuais para um máximo de
quinhentos alunos por prédio. Escola no bairro, virando a esquina
de casa. De zero a dezessete anos. Dê um pulinho na Finlândia,
dona Dilma. No aerolula dá pra chegar num piscar de olhos. Vá
até lá ver como se gerencia a educação pública com responsabilidade
e resultado. Enquanto os finlandeses amam a escola, os brasileiros a
depredam. Lá eles permanecem. Aqui a evasão é exorbitante.
Educação custa caro? Depende do ponto de vista de quem analisa.
Só que educação não é despesa. É investimento. E tem que ser feita
por qualquer gestor minimamente sério e minimamente inteligente.
Povo educado ganha mais, consome mais, come mais corretamente,
adoece menos e recolhe mais imposto para as burras dos governos.
Vale à pena investir mais em educação do que em caridade, pelo
menos assim penso eu, materialista convicta.

Antes que eu me esqueça e para ser bem clara: planejamento familiar
não tem nada a ver com controle de natalidade. Aliás, é a única medida
capaz de evitar a legalização do controle de natalidade, que é uma
medida indesejável, apesar de alguns países precisarem recorrer a
ela. Uberlândia, inspirada na lei de Cascavel, Paraná, aprovou, em
novembro de 1992, a lei do planejamento familiar. Nossa cidade
foi a segunda do Brasil a tomar esta iniciativa, antecipando-se ao
SUS. Eu, vereadora à época, fui a autora da mesma e declaro isto
sem nenhuma vaidade, apenas para a senhora saber com quem
está falando.

Senhora PresidentA, mesmo não tendo votado na senhora, torço
pelo sucesso do seu governo como mulher e como cidadã. Mas a
maior torcida é para que não lhe falte discernimento, saúde nem
coragem para empunhar o chicote e bater forte, se for preciso.
A primeira chibatada é o seu veto a este Código Florestal, que ainda
está muito ruim, precisado de muito amadurecimento e aprendizado.
O planeta terra é muito mais importante do que o lucro do agronegócio
e a histeria da reforma agrária fajuta que vocês estão promovendo.
Sou fazendeira e ao mesmo tempo educadora ambiental. Exatamente
por isto não perco a sensatez. Deixe o Congresso pensar um pouco
mais, afinal, pensar não dói e eles estão em Brasília, bem instalados
e bem remunerados, para isto mesmo. E acautele-se durante o
processo eleitoral que se aproxima. Pega mal quando um político
usa a máquina para beneficiar seu partido e sua base aliada.
Outros usaram? E daí? A senhora não é os outros. A senhora á a
senhora, eleita pelo povo brasileiro para ser a presidentA do
Brasil, e não a presidentA de um partidinho de aluguel, qualquer.
Se conselho fosse bom a gente não dava, vendia. Sei disto, é claro.
Assim mesmo vou aconselhá-la a pedir desculpas às outras mães
excluídas do seu presente: as mães da classe média baixa, da classe
média média, da classe média alta, e da classe dominante, sabe por
quê? Porque somos nós, com marido ou sem marido, que, junto
com os homens produtivos, geradores de empregos, pagadores
de impostos, sustentamos a carruagem milionária e a corte
perdulária do seu governo tendencioso, refém do PT e da base
aliada oportunista e voraz.

A senhora, confinada no seu palácio, conhece ao vivo os beneficiários
da Bolsa-família? Os muitos que eu conheço se recusam a aceitar
qualquer trabalho de carteira assinada, por medo de perder o benefício.
Estou firmemente convencida de que este novo programa, BRASIL
CARINHOSO, além de não solucionar o problema de ninguém, ainda
tem o condão de produzir uma casta inoperante, parasita social,
sem qualificação profissional, que não levará nosso País a lugar
nenhum. E, o que é mais grave, com o excesso de propaganda
institucional feita incessantemente pelo governo petista na última
década, o Brasil está na mira dos desempregados do mundo inteiro,
a maioria qualificada, que entrarão por todas as portas e ocuparão
todos os empregos disponíveis, se contentando até mesmo com a
informalidade. E aí os brasileiros e brasileira vão ficar chupando
prego, entregues ao deus-dará, na ociosidade que os levará à
delinquência e às drogas.

Quem cala, consente. Eu não me calo. Aos setenta e quatro anos,
o que eu mais queria era poder envelhecer despreocupada, apesar
da pancadaria de 1964. Isto não está sendo possível. Apesar de ter
lutado a vida toda para criar meus cinco filhos, de ter educado
milhares de alunos na rede pública, o País que eu vou legar aos
meus descendentes ainda está na estaca zero, com uma legislação
que deu a todos a obrigação de votar e o direito de votar e ser
votado, mas gostou da sacanagem de manter a maioria silenciosa
no ostracismo social, alienada e desinteressada de enfrentar o
desafio de lutar por um lugar ao sol, de ganhar o pão com o suor
do seu rosto. Sem dignidade, mas com um título de eleitor na mão,
pronto para depositar um voto na urna, a favor do político
paizão/mãezona que lhe dá alguma coisa. Dar o peixe, ao invés
de ensinar a pescar, est a foi a escolha de vocês.

A senhora não pediu minha opinião, mas vai mandar a fatura para
eu pagar. Vai. Tomou esta decisão sem me consultar. Num país
com taxa de crescimento industrial abaixo de zero, eu, agropecuarista,
burro-de-carga brasileiro, me dou o direito de pensar em voz alta
e o dever de me colocar publicamente contra este cafuné na cabeça
dos miseráveis. Vocês não chegaram ao poder agora. Já faz nove anos,
pense bem! Torraram uma grana preta com o FOME ZERO, o bolsa-escola,
o bolsa-família, o vale-gás, as ONGs fajutas e outras esmolas que tais.
Esta sangria nos cofres públicos não salvou ninguém? Não refrescou
niente? Gostaria que a senhora me mandasse o mapeamento do Brasil
miserável e uma cópia dos estudos feitos para avaliar o quantitativo
de miseráveis apurado pelo Palácio do Planalto antes do anúncio do
BRASIL CARINHOSO. Quero fazer uma continha de multiplicar e
outra de dividir, só para saber qual a parte que me toca nesta chamada
de capital. Democracia é isto, minha cara. Transparência.
Não ofende. Não dói.

Ah, antes que eu me esqueça, a palavra certa é PRESIDENTE.
Não sou impertinente nem desrespeitosa, sou apenas professora
de latim, francês e português. Por favor, corrija esta informação.

Se eu mandar esta correspondência pelo correio, talvez ela pare
na Casa Civil ou nas mãos de algum assessor censor e a senhora
nunca saberá que desagradou alguém em algum lugar. Então
vai pela internet. Com pessoas públicas a gente fala publicamente
para que alguém, ciente, discorde ou concorde.
O contraditório é muito saudável.

Não gostei e desaprovo o BRASIL CARINHOSO. Até o nome me
incomoda. R$2,00 (dois reais) por dia para cada familiar de quem
tem em casa uma criança de zero a seis anos, é uma esmolinha
bem insignificante, bem insultuosa, não é não, dona Dilma?
Carinho de presidentA da república do Brasil neste momento,
no meu conceito, é uma campanha institucional a favor da vasectomia
e da laqueadura em quem já produziu dois filhos. É mais creche
institucional e laica. Mais escola pública e laica em tempo integral
com quatro refeições diárias. É professor dentro da sala de aula,
do laboratório, competente e bem remunerado. É ensino
profissionalizante e gente capacitada para o mercado de trabalho.

Eu podia vociferar contra os descalabros do poder público, fazer
da corrupção escandalosa o meu assunto para esta catilinária.
Mas não. Prefiro me ocupar de algo mais grave, muitíssimo mais
grave, que é um desvio de conduta de líderes políticos desonestos,
chamado populismo, utilizado para destruir a dignidade da massa
ignara. Aliciar as classes sociais menos favorecidas é indecente e
profundamente desonesto. Eles são ingênuos, pobres de espírito,
analfabetos, excluídos? Os miseráveis são. Mas votam, como
qualquer cidadão produtivo, pagador de impostos.
Esta é a jogada. Suja.

A televisão mostra ininterruptamente imagens de desespero social.
Neste momento em todos os países, pobres, emergentes ou ricos, a
população luta, grita, protesta, mata, morre, reivindicando
oportunidade de trabalho. Enquanto isto, aqui no País das Maravilhas,
a presidente risonha e ricamente produzida anuncia um programa de
estímulo à vagabundagem. Estamos na contramão da História, dona Dilma!

Pode ter certeza de que a senhora conseguiu agredir a inteligência
da minoria de brasileiros e brasileiras que mourejam dia após dia
para sustentar a máquina extraviada do governo petista.

Último lembrete: a pobreza é uma consequência da esmola. Corta
a esmola que a pobreza acaba, como dois mais dois são quatro.
Não me leve a mal por este protesto público. Tenho obrigação de
protestar, sabe por quê? Porque, de cada delírio seu,
quem paga a conta sou eu.

Atenciosamente,
Martha de Freitas Azevedo Pannunzio
Fazenda Água Limpa, Uberlândia, em 16-05-2012

 

 

FONTE: https://www.blogdoantero.com.br/politica/professora-de-74-anos-bateu-forte-na-presidente-vale-a-pena-ler/4901

 

 

 

 

AUSTERIDADE

(Augusto Aguiar)

 

            A matéria abaixo foi redigida para publicação em um jornal, mas não me recordo se isso ocorreu. Acredito que outros articulistas – consultados pelo veículo de comunicação - escreveram melhor sobre o tema e  tiveram as suas matérias publicadas. Resolvi publicá-la no meu Blog e agora no site Stilocidade (graças a uma gentileza da Sílvia, mantenedora do site). O objetivo do jornal era colher impressões sobre um artigo publicado com o título: “Austeridade e políticos: dá casamento?”.

            Iniciei o texto da seguinte forma: “Antes, um conselho: matéria sobre política não incrementa vendas, assinaturas e publicidade. As matérias sobre comportamento, sim. Esta era uma receita de Tales de Alvarenga, ex-diretor editorial de Veja e Exame, falecido em 2006. A conceituação é científica. Portanto, parabéns pela coragem do editorialista e do jornal”.

            Certa vez estive em Brasília, poucos parlamentares estavam presentes à sessão na Câmara dos Deputados. Perguntei a um funcionário:
            -O absenteísmo deve-se aos baixos salários dos parlamentares ?

            -Não, os salários são altos – disse-me

            -Qual a reação quando cobrados pelo povo, pela imprensa ? – indaguei.

            -Às vezes, alguns ficam ruborizados por dentro – respondeu-me.

            Lembrei-me das palavras de Torquato Jardim, ex-ministro do Supremo Tribunal. Acertou quando disse: “O direito eleitoral é o único em que o legislador é o destinatário exclusivo da norma”.  As minhas considerações não matam o debate sobre o tema. Mas fica aqui uma advertência: a classe política tem sido penalizada pela postura dos maus políticos. Esta é uma análise a ser levada em conta nas conceituações. Não existem apenas ilhas de excelências. Há bons políticos no contexto geral.

            Se a política é fraude institucionalizada por alguns, sirvam-nos, portanto, os bons políticos de exemplo; os maus, de advertência. Ou seja, em alguns casos para além das bodas de ouro. Noutros, noivado rompido.

 

Políticos e linguagem hipnótica

Alexandre Bortoletto*

“Se eleito for, eu prometo...”. Anda ouvindo essa com frequência? As eleições estão chegando e a trilha sonora do momento são as promessas dos candidatos. Se levarmos em conta o que os políticos dizem em seus discursos, em um passe de mágica observaremos melhorias na educação, saúde, segurança, transporte público e distribuição de renda

Mas, após a posse, temos sempre a sensação de que fomos enganados, pois as tais promessas, no melhor dos cenários, só é cumprida em partes. Por que isso acontece? Um dos grandes males das eleições é o discurso vago demais.

Quando um candidato promete melhorar o transporte público ou investir no ensino público de qualidade, o que exatamente ele quer dizer? Nós entendemos que vamos chegar no horário sem passar aperto nos ônibus e trens e que nossos filhos aprenderão, de graça, tudo que precisam para serem adultos bem-sucedidos pessoal e profissionalmente. Mas, ao ser eleito, esse candidato pode votar a aprovação de uma nova estação de metrô e aprovar a compra de um novo título para a biblioteca escolar. Ele cumpriu a promessa?

Costumamos reclamar desse político, mas a verdade é que nos deixamos levar por um discurso cheio de clichês que criam na nossa cabeça o futuro que gostaríamos de alcançar. As promessas políticas são feitas em uma linguagem hipnótica, que gera um estado alterado de consciência ampliada: estamos acordados, mas somos levados a experimentar sensações e a criar imagens mentais.

Os acontecimentos chamados hipnóticos fazem parte da vida dos seres humanos continuamente. Todos os dias e a cada instante, estamos embutidos neste chamado estado alterado de consciência. No lugar dos pêndulos e dos shows de mágica em que a plateia é induzida a fazer o que não quer, a hipnose moderna - também chamada de ericksoniana, em função do trabalho desenvolvido pelo psiquiatra norte-americano Milton Erickson - é uma ferramenta linguística, uma forma ampliada de comunicação.

Essa hipnose pode ser usada em vários contextos. Um médico pode fazer com que o paciente se sinta mais seguro em relação a determinado tratamento. Um gestor pode mostrar à equipe os benefícios de se trabalhar em conjunto. E um vendedor – papel que o político assume durante as eleições – pode “transportar” um potencial cliente para uma realidade em que ele só vai usufruir se fizer a compra.

Cabe a cada eleitor analisar bem os discursos antes de escolher o candidato. O que essa pessoa quer dizer quando garante que fará isso ou aquilo? Se a dúvida persistir, pergunte. É dever do político ser claro em seu discurso e não prometer o que não poderá cumprir. É nosso dever como cidadão não comprar gato por lebre. Ao entender como funciona a linguagem hipnótica, temos a chance de ajudar a garantir que ela só será utilizada para beneficiar o próximo. O país agradece.

 

* Alexandre Bortoletto é instrutor da SBPNL – Sociedade Brasileira de Programação Neurolinguística

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