CAUSOS   & CASOS

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MOTINHA E O CURSO DE VENDASCASO

Motinha foi trabalhar na área de vendas de uma grande empresa siderúrgica. Vendia tubos industriais (quadrados, retangulares e redondos), tubos galvanizados, ferros quadrados e redondos, perfis de estoque e sob encomenda, chapas de aço, chapas galvanizadas, telhas galvanizadas onduladas, além de outros materiais destinados aos serviços de serralheria.

Os vendedores atendiam o cliente presencialmente e por telefone. Neste caso, algo similar ao telemarketing, num raio de duzentos quilômetros. As vendas contemplavam clientes avulsos e grandes clientes.

Tão logo adquiriu desenvoltura, foi liberado para atuar sozinho. Com o senso de observação apurado, sacou a postura dos compradores (Setor de Compras) das grandes empresas vinculadas à sua carteira de clientes.

Perfil autocrata, mal educados, soberbos. Assim eram os compradores. Por executarem uma função de compras, achavam que podiam usar e abusar daqueles que vendiam-lhes.

Motinha pensava:
Esses caras representam mal as marcas paras as quais trabalham, apesar dos seus produtos serem ótimos. Muitos deles já foram deselegantes comigo. Diante de um produto deles, não comprarei. Virão à memória os  momentos desagradáveis a que submeteram-me.

Certo dia, o diretor de uma dessas empresas, empenhado com a imagem institucional da mesma, ligou e foi atendido por Motinha.

Explicou que a intenção da pesquisa, apesar da empresa de Motinha ser apenas fornecedora, era colher informações e sugestões que pudessem ajudá-lo a implementar novos conceitos.
Motinha expôs uma série de argumentos, sobre a postura do Setor de Compras, que despertaram a atenção do seu interlocutor.

-No meu lugar, Sr. Motinha, qual a sua ação para sanar esse problema ?

-Para mim é muito simples – explicou - dê um Curso de Vendas para o seu Setor de Compras. É a melhor solução – única – por sinal.

(Augusto Aguiar – 28/10/2012 – 20h45min)

 

Do carro da moda ao trapezista de mangueira Silvia Coelho

 

 

15/10/2007 CAUSO

 

     Nos tempos idos, onde a maioria das estradas era de chão batido, tempo que o relógio da matriz batia nos informando a hora, que o trem avisava a cidade inteira que  estava chegando ou que estava partindo.
  Alguns "fordinhos bigode" desfilavam pela cidade, algumas charretes de aluguel puxadas por cavalo ainda teimavam em passar pelos paralelepípedos, os carros iam chegando e num é que chegou  o gordini, a romiseta, o dkv, o sinca, o aero willis e na maior sensação chegou o carmanghia que mal cabia duas pessoas dentro?
  A páscoa anunciava os famosos roubos de galinha para virar uma suculenta galinhada no Domingo de Páscoa, ovo de chocolate só na vitrine ou na revista do jornal pendurado nas bancas; maçã brasileira não existia mas bastava ficar doente pra saborear uma das maças importadas ou de outros estados . 

    Eu lembro com saudade dos trapezistas que faziam verdadeiros malabarismos nos circos pobres que se instalavam na cidade e alguem da turminha que copiava e fazia do galho da mangueira um espetáculo pra subir e pra descer... isto quando não estatelava no chão.  E aquele que resolveu pular de pára-queda, pendurado no lençol amarrado? O que não faltava era surra e mercúrio cromo para tampar os cortes e a falta de pele pelo corpo.
  E a rua São João... do amigo Antonio José (Buda), Carlos Alberto, Silvinho, Breviglieri ... lembro também naquele pedaço do quarteiráo da Cordeiro (Cássia e Cida), da Sueli , da Bebel, Moema e o irmão Sergio, Olinda e de 3 rostinhos: Ângela, Cida e Eugenia que ficavam na janela do sobrado, na esquina da rua São João, vendo a meninada jogar bola, amarelinho, andar de bicicleta... e quantas escolinhas com giz, quanta comidinha em fogáozinho de tijolo, quanta fumacinha imitando um cigarro nos talinhos de xuxu.... Em dois quarteirões, duas turmas revezavam as brincadeiras saudáveis... e eu lá, presente sempre e rindo muito...
  Dá para lembrar também do famoso "Ti Chico" pelo jardim aos  arredores da Santa Casa  com seu apito, seu grito bravo e autoritário, a capelinha da santa casa, os tempos de jabuticabas, carambolas, a familiaa fazendo licor... E a famosa garapeira fabricação artesanal e caseira, no fundo do quintal moendo as canas transformando em suculentas garapas? E os tempos de sentar para ver as famosas geléias de mocotó que descia para o papo no final da tarde? Hum e os churrascos no final de semana e as inumeras brigas que saiam ... E com certeza, muita gente que está lendo este causo, vai cachoalhar hoje os bigode, vai passar as mãos "meia pregueada" pelo rosto e pensar : "que tempo bão..."

 

 

 

 

MOTINHA E A JUSTIFICATIVA ELEITORALcaso

Há alguns anos, o eleitor em trânsito fazia a sua justificativa eleitoral –erroneamente chamada de voto em trânsito- nos Correios, Filas múltiplas no atendimento: uma para comprar, outra para preencher e outra para carimbar os formulários. Havia  outros entraves, por exemplo:  muitos eleitores retiravam o título e o dinheiro da carteira apenas no momento do atendimento. Multiplicando-se isso por 3000 eleitores –média de pessoas que justificavam - o tempo improdutivo tornava-se assustador. As filas eram  enormes. Na vida tudo é estatística. Uma agência dos Correios resolveu pesquisar e detectou esta realidade: desses 3000 mil eleitores, 65% estavam fora do seu domicílio eleitoral, mas residiam na cidade. Ou seja, apenas não haviam transferido o título de eleitor. Os restantes residiam fora. Vinte dias antes das eleições, a mídia falada e escrita passou a ser acionada.

O eleitor fora do domicílio eleitoral, mas residente no município, era convidado a adquirir antecipadamente o formulário e levá-lo preenchido pelo atendente. Aos poucos, essa sensibilização transformou-se em autodisciplina.  Assim, no dia da eleição, o tempo de espera na fila seria mínimo; as justificativas emitidas antecipadamente eram assinaladas com um xis e o atendente, ao recepcioná-las, sabia que estavam isentas de conferência. Bastava carimbá-las. Outros mecanismos foram atrelados ao processo de diminuir o tempo de espera na fila. No dia das eleições, aproximadamente às 07h45min – o atendimento seria a partir das 8h- um ingênuo repórter volante de uma emissora de rádio passou pela agência e constatou uma fila de duzentos metros de extensão. Dirigiu-se até a emissora e  anunciou: "Fila quilométrica para justificar o voto nos Correios.  Usuários serão penalizados com um grande tempo de espera na fila". Às 8h15min, o repórter compareceu aos Correios para fazer um link com a central de apuração da emissora.

Espantou-se por não encontrar mais a fila. Entrevistou o responsável pela agência e obteve as informações a respeito do fato. No ar exclamou: -Pensei que...que...que....

Motinha que transitava por ali, disse ao repórter:

-Pensou com a ponta da língua !!!

(Augusto Aguiar – 27-10-2012 – 11h11min)

 

 

           MOTINHA E O DIVÃ DE FREUD    CASO

 

Motinha encontrou o amigo Fernando Mattos na banca de revistas. Cumprimentaram-se, viu que Fernando comprou uma revista com Freud  e o seu inseparável charuto na capa.

- Fumava demais esse cidadão – disse Motinha.

- Foi o pai da Psicanálise  – esclareceu Fernando.

- Pensei que Psicanálise fosse a marca dos charutos – ironizou Motinha.

- Não, é um método psicoterápico – explicou o interlocutor rindo.

- Mas cá entre nós: na época o homem foi o garoto-propaganda com custo zero para  a indústria de charutos – brincou Motinha.

Os dois continuaram conversando, foram até a Esquina do Pecado – ali na rua São João com a Oscar Werneck – e entraram na cafeteria do saudoso Jorge Caran  (o Anjo da Esquina do Pecado). Sentaram-se à mesa e pediram o delicioso café. Retomando o assunto sobre Freud, Fernando disse:
- Freud, através da Psicanálise  fez nascer a cura pela fala. No seu consultório havia um divã no qual os pacientes deitavam-se durante a sessão de Psicanálise.

- Mas se a cura era pela fala, qual a necessidade do paciente deitar-se no divã ?  Nesse processo de terapia, pelo que entendo – ponderou Motinha -não havia o contato físico.

- Divã significa o lugar da fala. Etimologicamente é uma palavra  de origem persa. O de Freud era coberto por um tapete persa e almofadas de veludo. Um luxo, pode-se dizer. Mas a finalidade principal – garantiu Fernando -era deixar o paciente mais relaxado, sem tantas defesas e resistências. Nessas condições ele se abria mais com Freud. Este pedia ao paciente que contasse tudo o que pensava e o paciente deixava a censura de lado. Na maioria das vezes, claro.

Depois de um gole de café, acrescentou:

- Na época ele foi chamado o Colombo do Espírito.

- Não seria melhor chamá-lo de o Colombo da Mente, fica mais científico –  retrucou Motinha.

- Concordo, Motinha – disse Fernando. Mas na época a terminologia era essa: Colombo do Espírito.

- Freud era uma fera – brincou Motinha.

- Deu pra entender ? – perguntou Fernando.

- Sim, claro. Essa turma do Mensalão poderia ir para o divã de Freud. Relaxariam, ficariam desarmados das defesas e resistências e confessariam tudo, sem nenhuma autocensura. Além disso, pelas técnicas da Psicanálise, não estariam falando frente a frente com ninguém - finalizou Motinha.

Com um olhar maroto acenou o chapéu para Fernando e disse:

- Até mais, amigo. Na próxima você paga novamente o café.


(Augusto Aguiar – 25/09/2012 -20h50m)

MOTINHA, A VÍRGULA E A SINTAXE CASO

 

Era o encontro da oitava série, turma de 1968. Eleutério e Motinha conversavam com o Sr. Ananias. Este era um conceituadíssimo professor de Língua Portuguesa.

-Essa questão da vírgula é chata. Não é, professor? – manifestou-se Eleutério.

-O emprego da vírgula – acrescentou o mestre - não é uma questão prosódica, ou seja, de ouvido. “Havendo pausa, há vírgula”. Essa afirmação é puro  blá-blá-blá.  A questão é sintática: envolve a estrutura da frase. Lembram-se do livro do professor Celso Luft ? Tratava-se, enfim, de um livro excelente e ainda está no mercado dos didáticos. Através desse livro, Celso Luft, mais uma vez, abordou o emprego correto da vírgula. Chama-se A Vírgula. Ele ensina: “Fala é uma realidade e a escrita é outra. Não se virgula de orelha”.

Ananias continuou a discorrer sobre o tema. A sua didática era impecável:

-Sujeito o e verbo – explicou-lhes – são termos essenciais da oração e podem ser representados como gêmeos siameses. Portanto, não são separados por vírgula. Entre o verbo e seus complementos - objeto direto e indireto – não pode haver vírgula, são inseparáveis.

-A vírgula é uma criadora de casos. – desabafou Motinha. E continuando, disse:

-Aonde vai a vírgula - entre sujeito e verbo – quando o sujeito é oculto ?

-Que sujeito oculto, que nada! Isso não existe mais, meu caro Motinha. O sujeito oculto foi abolido.  Não faz sentido.   Esqueça isso. – respondeu o outro.

-Professor- perguntou Eleutério - na frase “Haverá jogos hoje.”, o sujeito não estaria oculto ?

-Nada disso – respondeu. O seu exemplo é uma oração sem sujeito, o verbo é impessoal, não possui pessoa. O sujeito não está oculto nesse exemplo.

-Então, o sujeito não é exatamente um termo essencial. – arrematou Motinha.

-A sua definição não está totalmente errada. - explicou o professor. A  Norma Oficial exclui essa possibilidade. Lembro-me de uma história, mas não me recordo o autor.   A esposa do professor chamava-se Norma. Diante de casos idênticos ao que mencionou – não ser o sujeito um termo essencial da oração – aquele professor ficava louco com os desvios da Norma. A Norma Oficial, claro. Todos riram.

-E a oração “Socorro!”?- indagou Eleutério.

-Não é uma oração; não tem, pois, o verbo. É apenas uma frase nominal – esclareceu o  professor. Está sozinha: não tem sujeito, verbo e complementos – respondeu.

Então,  ficou solteira – disparou Motinha.

E acrescentou: - Teacher, o almoço está na mesa. Vamos lá!

(Augusto Aguiar – 24/10/2012 – 08h33)

 

 

MOTINHA E UMA TABELA INGRATACASO

 

Corte de cabelos: R$ 18,00

Barba:         R$ 15,00

     FIADO:     R$ 25,00

Essa era a tabela de preços exposta no salão do cabeleireiro Luizinho. Sexta-feira, dezoito horas, logo depois o estabelecimento estaria no seu horário de pico.  Motinha e mais dois clientes esperavam a vez. Em média, o tempo para o corte de cabelos é de quarenta minutos. Foi o tempo aproximadamente gasto com o cliente que estava sendo atendido. No entanto, ele iria cortar a barba e o estilo era tunado, consumia mais tempo. Uma hora e vinte foi o tempo gasto. Ao término o cliente pagou e despediu-se. Nessa faixa horária chegaram dez clientes que, percebendo a demora, ficaram de voltar noutra oportunidade.

Motinha comentou com Luizinho:

-Esse cara gastou R$ 33,00 para fazer cabelo e barba. Os dez clientes que não esperaram gastariam, no mínimo, R$ 180,00. O caro amigo teve um prejuízo de  R$ 147,00.

-Mas, por outro lado, ele vem toda semana. – explicou Luizinho.

-Então o seu prejuízo no mês é maior – ponderou Motinha – e no caso está pagando para atendê-lo.

Luizinho ficou com o olhar pensativo e disse:

Estou sim. O pior é que estou!!!

Em seguida foi a vez de Motinha cortar os cabelos.  Este disse-lhe:

-Aconselho-o a baixar o preço do corte fiado.  Deixe no valor do preço à vista.

-Por quê ? – perguntou o cabeleireiro.

-Dez cortes fiados não recebidos totalizam R$ 250,00. Ao preço de R$ 18,00 o seu prejuízo seria de R$ 180,00. Portanto, R$ 70,00 a menos.

-E no caso – pormenorizou Luizinho – desses dez clientes pagarem os cortes fiados ? Da mesma forma absorverei o prejuízo de R$ 70,00.

-Estipulando preços iguais para pagamento à vista e fiado – explicou Motinha - ficará a impressão de um possível prejuízo. Mas em muitos casos o seu preço à vista é maior que nos concorrentes. Nesses casos já há juros embutidos sem que o cliente perceba.

No mesmo instante Luizinho processou as alterações na tabela. Em seguida terminou o corte de cabelos de Motinha. Este despediu-se e disse:
-Até a próxima, Luizinho. O corte de hoje é fiado, depois eu pago.

(Augusto Aguiar – 22/10/2012 – 13h01)

 

O caipira descobre o bate-papo da Internet         

FOTO:educacaodigital.posterous.com        

CAUSO

Silvia T Coelho

Família reunida no final da tarde com os empregados da fazenda. Trabalhador da roça, plantando alimento para sobrevivência, vendia e hoje já tinha a própria terrinha. Sentavam na área, comentando o dia difícil, o sol lascado, as folhas queimadas, a falta de chuva, pensando e trocando ideias se ia dar uma boa colheita.

Depois o filho que devia ficar ajudando a família, resolve morar na cidade para estudar, acaba casando com uma moça diplomada, os filhos nascem, o trabalho na cidade aumenta e volta para lavoura? Nem pensar... Mas cada vez que chega, traz um presente do progresso: primeiro foi o radio de pilha, depois que veio a energia elétrica para a fazenda, trouxe um aparelho de som, a televisão com o vídeo para o pai conhecer os lugares da cidade, a casa que mora com a família, o que as crianças fazem na cidade... depois trouxeram o tal de microonda, liquidificador, e por aí afora...

Ah! Mas desta vez que o filho veio passar uns dias a mais, num é que o filho trouxe um negócio diferente chamado computador? Pois é, ele explicou que tinha uma tal de internet que, enquanto ele vinha  descansar no campo desfrutando de umas férias, fugindo das correrias da cidade, poderia estar ligando o computador e “acessando” a tal internet com isso, ficava ao par das notícias que acontecia lá fora... e o homem da terra, mão calosa e grossa, que mal sabia fazer contas e escrever o nome,  ficou alucinado, afinal aquela coisa cheia de cor o  deixava zonzo. 

Curioso e inteligente ficou observando e gostou da coisa! O filho  ia explicando, até que mostrou na tal da internet, varias técnicas de plantio, produtos, compra de qualquer coisa, tudo pela tal da internet... Mas o que mais gostou  foi quando entrou num tal de bate-papo : as pessoas clicavam, um falando com o outro, outro respondendo... num teve dúvida: ele  falou que esse negócio  queria aprender a mexer... Mas o filho preocupado orientou dos perigos, e o cadastrou num site de pessoas da idade dele, que teriam os mesmos papos e objetivos.

Os dias se passaram, o filho voltou para a cidade deixando um vazio muito grande principalmente no final da tarde... ninguém mais tinha disposição e tempo de sentar para comentar o final do dia porque um queria ver novela, o outro queria ouvir uma musiquinha , e ele achou que a hora era agora: fez a maior pose em frente do tal do computador e fez direitinho do jeito que o filho o  ensinou....Ô coisa boa... num é que se sentiu importante?

Ele pensava até então, que a falta da sua “véia” que já tinha morrido, dos vizinhos que não tinham mais tempo, do filho que tinha mudado para cidade iam  matá-lo de solidão... ah! que solidão nada... lembrou da aula e entrou no tal do bate-papo e lá ficou quase varando a madrugada: esqueceu de jantar, de tomar seu remédio de pressão, de tomar seu banho e quando olhou para o relógio na parede levou o maior susto da sua vida porque nunca tinha ido dormir depois das 7 horas da noite e já eram  10 horas....

Com atenção, lembrando de todas as orientações que o filho tinha dado, desligou  o computador, observou se não tinha ficado nada ligado, olhou pela janela a noite fresca, e percebeu que aquele ser ranzinza que habitava dentro dele , estava calmo e o sentimento de solidão tinha ido embora.... E pensou: “é ...vou viver até 100 anos se Deus quiser, já que ele quis que eu tivesse companhia no final da vida. Abençoada a tal da Internet e do Bate-Papo... amanhã trabalho com mais disposição.”

 

 

MOTINHA E A POSTECTOMIA CASO

CASO                                                                                                                                                                                                     

            Em 1970, Motinha e seu amigo Ramiro, conseguiram uma bolsa de estudos no Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD). Fariam um curso de seis meses, juntamente com mais 300 participantes, na área de fortalecimento das instituições.

            Geralmente, no início de cursos de médio a longo prazo, todos se encantam um com os outros. Paixão total. No meio do curso já começam a existir alguns distanciamentos. No final, então, há grupos e grupos que, caso não se hostilizem, encenam certa tolerância.

            Havia um participante, burocrático demais, chato demais, chamado Adérito Colombo. Motinha e Adérito quebraram a regra: desde o início não nutriram simpatia mútua. Adérito era inteligente, preparado, mas desafinava na elegância de atitudes: queria ser franco, mas era grosso. Qualquer ocorrência no curso enviava requerimentos ou cartas para a direção. Sempre cobrando providências.

            Numa atividade de classe, cujo tema foi livre,  Adérito apresentou um trabalho sobre  Artes. Fixou-se no Cubismo. Analisou com profundidade a produção das principais obras do pintor Pablo Picasso.

            Em determinado momento, Motinha interrompeu:

            - O cara era bom, mas o pincel dele não tinha toda essa potência que o nome expressa.

            - Estou falando em termos estéticos, não anatômicos. Caso não tenha percepção disso, seria melhor retirar-se – respondeu Adérito.

            -Eu me refiro às Artes Plásticas – rebateu Motinha. E emendou: pincel é a metáfora de talento. O seu entendimento está com o compartimento esgotado. Portanto, outro deveria estar abordando o tema. Não você.

            Apaziguaram a situação e a palestra continuou.

            Motinha deu uma piscadela para Ramiro.

            Na sexta-feira seguinte, ficaram sabendo que Adério, aos 25 anos, submeteu-se em caráter eletivo e sigiloso a uma Postectomia.

            O que é isso ? – perguntou Motinha ao informante.

            É uma cirurgia da fimose – explicou o outro.

            Todos moravam num andar de um hotel chamado Hotel do Giglio, na cidade de Bauru. No sábado à noite, Motinha e Ramiro arrumaram uma moça, introduziram-na no quarto de Adério com a recomendação de que fizesse um strip-tease. A ordem foi cumprida e Adério precisou ir para o Pronto-Socorro.        Na segunda-feira – após uma  gorja ao porteiro – conseguiu convencê-lo a declinar os nomes dos autores da arte. Não deu outra: o porteiro vomitou que Motinha e Ramiro eram os autores.

            Adério denunciou o fato através de comunicação por escrito,  protocolada na secretaria do Centro de Treinamento. Enviou cópias até para quem ele desconfiava que fosse fiscal disfarçado de aluno. Ele teve os pontos da cirurgia comprometidos. Motinha e Ramiro perderam pontos junto ao Conselho de Classe do curso e foram expulsos.

            Ao saber, Motinha exclamou:

            E se a moça do strip-tease tivesse sido Afrodite, a deusa do amor, da beleza corporal e do sexo ? Caçariam o mandato de deusa. Mesmo não sendo chamada para a tarefa, agiu preventivamente: mudou o nome de Afrodite  para Vênus de Milo.

(Augusto Aguiar - 01/10/2012 - 17h37m)

 

MOTINHA E A PREVIDÊNCIA SOCIALCASO

O meu amigo Motinha, malandro da gema, cutuca a Previdência Social:

-A contravenção, leia-se Jogo do Bicho, paga pensão integral às viúvas.

-Mas a contravenção é ilegal – argumenta um freguês ao seu lado no boteco.

-Se o Jogo do Bicho fosse a Previdência oficial,  os 25 bichos (do avestruz até a vaca) seriam centenas. O governo faria cruzamentos planejados de animais para surgirem novas raças e a chance do apostador diminuir  - argumenta Motinha.
-Só há uma uma solução para os aposentados e pensionistas: UM BICHEIRO PARA MINISTRO DA PREVIDÊNCIA SOCIAL. Assim, os benefícios não seriam cascatas, cujos valores – a exemplo da água - passam por penosas pedras  ou degraus que diminuem o valor do benefício. Mas verdadeiras cachoeiras  cujas águas (benefício) cairiam direta e integralmente no bolso do beneficiário/pensionista -  arremata Motinha.

A conversa virou bate boca, a polícia foi chamada e o Boletim de Ocorrências lavrado com o seguinte teor: “Sr. Motinha agredido por defender a contravenção informal no lugar da corrupção oficial”.

-Agressão merecida – comentou o Escrivão de Polícia.

(Augusto Aguiar -  23/09/2012 – 10h52m)

 

MOTINHA E O ADULTÉRIO CASO                                                                                                                                                                                                 

 

Leleco é um cabeleireiro conhecidíssimo. Ele não corta cabelos, mas remove-os com a delicadeza de um colibri retirando o néctar das flores. Em se tratando de boas maneiras, então, nem se fale. Com uma carteira de clientes invejável, está sempre sorrindo e dispensando a todos uma especial excelência no atendimento.

Certa vez, o Sr. Jeremias interrompeu o corte e exclamou:

-Me dê um instante, Leleco. E saiu às pressas com os cabelos desarrumados, vestido com a bata de cliente. Residia próximo ao salão. Por isso, não demorou a voltar.

-O que aconteceu ? – perguntou o cabeleireiro.

-Esqueci um bilhete de caráter reservado em cima da penteadeira. – explicou.

Sr. Jeremias – emendou Leleco – parece-me que estou percebendo o motivo da sua reação.

-Sabe, Leleco – disse o outro, enquanto o cabeleireiro dava continuidade ao corte - é apenas um pecadinho matrimonial que cometi.

Motinha estava por ali observando os dois. Leleco e o Sr. Jeremias eram homens cultos e naquele instante poderia brotar um diálogo bonito.

-Na minha idade passei a entender – comentou o Sr. Jeremias – que as emoções não podem ser regulamentadas.

-Sr. Jeremias – disse Leleco – na paixão, todos os impulsos são vividos com a máxima intensidade, é uma explosão de impulsos, é o máximo de amor, de ódio, de ciúme. Mas a paixão vive da impossibilidade. Acabou a impossibilidade, acabou a paixão. Ou seja, acabou o adultério, acabou a paixão.

-Sim, li esse comentário num artigo do Dr. Paulo Gaudêncio, psiquiatra e psicoterapeuta – respondeu o cliente.

-Releia e transleia !!! – cortou Motinha entrando na conversa.

Saiu para a rua e disse:

-Boa tarde, senhores.

(Augusto Aguiar – 06/10/2010 – 1801m)

 

MOTINHA E O LIXO ATÔMICOCASO

CASO                                                                                                                                                                                                       

Na sala de espera do cabeleireiro, Motinha - com o seu inconfundível chapéu de malandro - ouvia a conversa de um engenheiro nuclear e um professor.

- Viveremos um sério problema com o lixo nuclear – comentou o engenheiro.

- O curioso é que o presidente Obama é entusiasta da idéia de que a energia nuclear é a maior fonte de combustível e não gera emissões de carbono – explicou o professor.

- É natural a postura dele, pois os Estados Unidos dependem do combustível fóssil (petróleo) de outros países – explicou o engenheiro.

- Países com pequena extensão geográfica e com pouca fonte de hidroeletricidade comungam da mesma opinião dos presidente dos Estados Unidos– lembrou o professor.

- Os rejeitos atômicos, ou seja, o lixo nuclear pode ser reciclado. No entanto, o lixo de alta atividade não reciclado irá para depósitos subterrâneos.  Sempre haverá um risco – justificou o engenheiro.

O professor percebendo que Motinha estava atento ao assunto, disse-lhe:

- O lixo atômico é um problema quase insolúvel.

- Acho que não – respondeu Motinha.

-Não sei por que o senhor diz isso – interrompeu o engenheiro nuclear.

- O problema do lixo atômico ?

Não se espante, porque a solução é fácil.  É só levá-lo para o Triângulo das Bermudas – finalizou Motinha.

(Augusto Aguiar 24/09/2012 – 07h10m)

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